20 de novembro de 2014

CRÍTICAS MOSTRA ADULTA - DIA 11 (por Diego Molina)

ORDEM E PROGRESSO
Coletivo mulheres de buço – Rio de Janeiro/RJ

A cena, como o próprio grupo afirma na proposta de encenação, propõe “(...) reflexões críticas acerca da concepção iluminista da razão: um sistema de pensamento que determina o certo e o errado e condena quem pensa diferente – capazes e incapazes de fazer parte do convívio social”.
A ideia e a iniciativa, sem dúvida, são excelentes, principalmente no atual momento em que vivemos, após eleições e depois de pouco mais de um ano dos movimentos populares. Mas há que se apontar alguns entraves na cena que atrapalharam um pouco a genuína vontade do grupo de botar pra fora seus incômodos e sua vontade de expressão.
Nesse sentido, acredito que o texto possa ser melhor trabalhado. Apesar das ótimas referências (o conto de João do Rio “O homem da cabeça de papelão” e os filmes “Minority Report” e “Doze homens e uma sentença”), a dramaturgia carece principalmente de mais clareza e carpintaria. Creio que uma construção mais dramática poderia surtir mais efeito: personagens mais definidos, linha narrativa mais clara e, principalmente, explorar mais o conflito do texto, que é a descoberta de que um dos “juízes” é também um dos condenados. Isso permitiria um melhor rendimento do trabalho das atrizes. Apesar de nitidamente dispostas e com recursos técnicos vocais bem trabalhados, a falta de contracenação – devido ao texto incipiente – atrapalha um melhor resultado.
A transposição da narrativa épica para a dramática é sempre delicada, pois no teatro grande parte do interesse do público se dá através da sua relação com o conflito proposto. No teatro dito realista – ou numa prática que se pretende contar uma história – isso vem diretamente do texto. E a impressão que me fica é que há uma indefinição na escolha do grupo: contar bem uma história ou botar pra fora um discurso mais áspero sobre a temática escolhida? Talvez um caminho para esse empasse seria a presença de um dramaturgo de ofício – no sentido de ter alguém de fora para processar melhor o material criado colaborativamente.
Por outro lado, a direção e a visualidade do espetáculo trabalham juntas em sintonia, proporcionando uma dinâmica ágil e prazerosa de se ver. O que parece revelar uma preocupação do grupo com a estética da cena. Um cuidado maior com a dramaturgia, unindo a visualidade da cena e o discurso do grupo, resultaria num trabalho ainda mais potente.
A encenação também chama atenção pelo áurea cinematográfica impressa na cena. Um “timing” preciso, uma disposição mais frontal e a imposição total da “quarta parede” mostram claramente o diálogo já mencionado com as referências do cinema.
Por fim, acho que um trabalho extremamente digno, engajado, com seus integrantes repletos de energia e disposição, mas que, por enquanto, ainda falta clareza do discurso e um melhor tratamento dramatúrgico.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 12 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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DENUNCIADOS PELA LINGUAGEM
Belo Horizonte/MG

O esquete começa com um ator, da plateia, representando um morador de rua, enquanto outros dois atores, no palco, montam o cenário do que virá a ser um bar. A realização de cenas simultâneas e de falas sobrepostas acontece durante todo o esquete e chama bastante a atenção, positivamente. Um trabalho que me faz lembrar as peças do encenador Jefferson Miranda, que, através de conversas aparentemente cotidianas dentro uma plataforma aparentemente naturalista, traz à tona interessantes questões sobre o ser humano.
A premissa do grupo de “Denunciados pela linguagem” tenta seguir um caminho parecido. Mas durante todo o esquete tentei captar qual seria a “questão” do trabalho. A presença de um personagem que é um morador de rua e de uma família que trabalha num bar, aparentemente de uma periferia, indicam ricos caminhos para a reflexão de nossa sociedade. No entanto, não há um “discurso” claro, nem um problema evidente a ser resolvido, dramaticamente falando. O grupo subverte o conceito de ação dramática para deixar seus personagens “serem” no palco: sua existência e seu contato com os outros personagens, dentro de uma plataforma social bem definida (bar da periferia) seria o suficiente para o desenvolvimento do esquete e consequentemente das reflexões que dela pudessem surgir.
Tudo isso acaba criando uma estrutura muito próxima do “real”: tempo, falta de ação, diálogos cotidianos etc. O que é bastante prazeroso de acompanhar. E em contraposição a essa proposta, a direção cria um ambiente altamente volúvel e teatral utilizando-se de engradados de cerveja, que são trabalhados de diversas formas, possibilitando dinâmicas variadas. A instabilidade das caixas quando empilhadas ainda permite criar uma tensão com o público, visto que podem cair ou se desencaixar a qualquer momento.
Mas ao término do esquete, ainda não era possível entender qual era a “questão”, de fato, em cena. Lendo a proposta de enação fiquei encantado com as referências trabalhadas pelo grupo, em particular o caso real da mulher linchada no litoral paulista após ter sido acusada de bruxaria com crianças. Infelizmente, não consegui identificar com clareza as referências na cena, me deixando com uma sensação um pouco frustrada.
O trabalho dos atores tem papel de destaque no esquete: ao mesmo tempo em que atuavam bem dentro da estrutura “cotidiana” proposta pelos diálogos, também quebravam com vigor esse ambiente, com bons rompantes de teatralidade.
Destaco ainda o momento em que a criança destrói o boneco. Uma cena extremamente forte e ao mesmo tempo delicada. Sem dúvida o melhor momento do trabalho.
Ao final de tudo, fico com uma sensação de quero mais: tanto no sentido de querer acompanhar mais aqueles interessantes personagens naquele ambiente, tanto em entender melhor o discurso e as referências propostos pelo grupo.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 12 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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COM CERTEZA
Coletivo Lá vai Maria – Rio de Janeiro/RJ

“Com certeza” é uma cena adaptada da peça “Tudo no timing”, do dramaturgo americano David Ives, transposta para o palco do 7º Niterói em Cena através de elementos farsescos e com a presença de uma charmosa banda executando a trilha sonora ao vivo.
O início da apresentação é extremamente bonito. A banda, composta por três músicos, inicia os trabalhos com um jazz, enquanto os dois atores terminam de se vestir e de compor seus personagens. Sombras e uma luminária no palco marcam ainda o ambiente.
A estética, no entanto, é dicotômica: a banda, a música e as sombras promovem um ar soturno e melancólico, com ares de ambientação nova-iorquina. Os atores e as interferências sonoras cômicas de uma espécie de corneta, que vem do palco, conferem um estilo mais clownesco ao trabalho. A união, em si, não é ruim. A contradição dessas duas linguagens promove uma estranheza esteticamente bem proveitosa.
O problema se dá justamente no tratamento com o texto. A minha impressão é que todo o trabalho estético (a concepção do esquete) acaba ficando maior do que a cena em si, superando o propósito dela mesma: o encontro do casal. Ao começar pela disposição dos elementos, que não favorece o trabalho: as cenas jogadas muito para o fundo do palco, perdendo o contato com o público e dificultando a compreensão do texto, e a não utilização do centro, a área mais nobre do palco, fixando os atores totalmente do lado esquerdo e a banda do lado direito.
“Tudo no timing”, como o próprio título diz, é um texto que depende extremamente do seu ritmo. Ao meu ver, ao priorizar um tipo de composição clownesca de interpretação, os atores acabam se prejudicando – e também a cena – na medida em que a velocidade e o ritmo dos diálogos se arrefecem. O tempo dos diálogos e o jogo dos atores dá lugar, em alguma medida, a uma necessidade de exteriorização dos trejeitos dos personagens-clowns, deixando a cena maior do que o texto sugere. Da mesma forma, um excesso de interferências da banda – apesar dela ser um elemento válido e interessante – também atrapalha o andamento do texto.
Outras duas questões – fáceis de se resolverem – é a presença da “corneta” na plateia, ao vivo, o que ocasiona um “delay” desnecessário à cena (até que o som chegue ao final do palco, perde-se bastante tempo); e a ausência dos elementos cenográficos sugeridos pelo texto (mesa e cadeira).
Apesar dessas questões, trata-se de uma cena com muitas qualidades, e em muito me lembra a áurea charmosa e cosmopolita da trilogia “antes do amanhecer”, de Richard Linklater. Creio que se o grupo conseguir casar seus anseios estéticos – tanto na concepção quanto no trabalho de atuação – com o texto, o esquete vai crescer bastante. Inclusive, clareando as questões propostas pelo autor e seu ponto-de-vista sobre os relacionamentos nos dias de hoje.
Ps.: tenham cuidado com a cabeça do ator, ao final da cena, quando vocês forem carrega-lo para fora do palco. Hehehehe
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 12 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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MEU NOME É ERNESTO!
Primitivos – Rio de Janeiro/RJ

Um dos esquetes de maior êxito da noite, “Meu nome é Ernesto!” tem um ótimo retorno do público por conseguir realizar um trabalho bastante simples, mas recheado de nuances e profundidade, intercalando momentos dramáticos e cômicos.
A receita desse êxito: a união de três elementos, texto, direção e elenco de qualidade. Uma cena objetiva e dirigida com simplicidade, focada em mostrar um pedacinho da vida de um casal de idosos. Nesse sentido, a performance de Jéssika Menkel e Arthur Ienzura tem papel decisivo na montagem. Ambos mostram técnica e desenvoltura na difícil composição de seus dois velhinhos, se utilizando muito bem do tempo para realizar suas funções. Apesar de apresentarem um estilo de representação um pouco diferente, os dois atores, muito bem conduzidos pela direção, exploram seus personagens com a calma dramática e o timing de comédia devidos.
Tanto a iluminação, quanto o cenário e o figurino colaboram com o texto e com a encenação, sem excessos, favorecendo o jogo dos atores e a objetividade das marcas.
Uma pequena ressalva à montagem se dá no texto. Apesar de livremente inspirado na peça de Robert Anderson, a dramaturgia parece mais uma cena recortada da obra original do que um esquete em si. Isso porque muitas vezes o maior conflito do texto é mostrar os problemas físicos dos idosos em detrimento a uma questão maior.
Mas se trata de uma cena extremamente prazerosa e agradável de se acompanhar. Os personagens, com seu tom debochado, nos convidam a embarcar na história sem enxergar o casal como um mero objeto de piedade. A gag final da suporta morte do idoso fecha com chave de ouro a apresentação. Um belo trabalho.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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UM LEÃO POR DIA
Clã de nós – Rio de Janeiro/RJ

Outro esquete com enorme comunicação com a plateia, “Um leão por dia” é um trabalho divertido e executado com competência pelos seus intérpretes. A dupla de atores-comediantes Bruna Campello e Léo Castro, figuras bastante conhecidas do circuito de humor do Estado, incorpora dois tipos muito engraçados, se utilizando de um timing preciso e empatia com o público.
Apesar de construída a partir de um mote já bastante visto em outros esquetes de humor – atores/figurantes presos numa enrascada – a cena, escrita por Paula Rocha, lembra em muito os entreatos do teatro musical, pois não carece de maiores recursos para uma boa encenação e tem como objetivo principal o entretenimento. Nesse sentido, o texto é bastante eficiente, apresentando com clareza um conflito/situação dramática e uma plataforma objetiva para o desenvolvimento fluido da história. Outro ponto positivo é o diálogo com elementos da atualidade, abordando referências como programas de tevê e redes sociais.
O esquete também vai além do puro entretimento na medida em que apresenta uma discussão válida sobre a ineficiência do sistema penitenciário e de algumas convenções sociais, marcadas pelos tipos representados – mesmo que superficial e dentro de uma estrutura metalinguística (atores interpretando atores numa prisão).
Trata-se de uma cena dirigida com agilidade (não sei se por Fernando Caruso ou Amanda Paiva, ou os dois – a ficha técnica não esclarece), carecendo apenas de mais calma em alguns momentos. Algumas pausas poderiam contribuir para o trabalho e para uma maior dramatização da cena, no sentido de impor mais teatralidade.
Destaque ainda para a participação em vídeo de Gugu Madeira, no papel do diretor do filme.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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HAMLET EM 15 MINUTOS
Os trágicos – Rio de Janeiro/RJ
O esquete é uma adaptação de um trecho da peça “Dogg’s Hamlet”, de Tom Stoppard, e tem como proposta um mote que já se tornou clássico: a apresentação de uma peça ou obra literária em poucos minutos, com poucos atores e bastante humor. Trata-se de uma ideia que já vem sendo realizada em muitos festivais de esquetes e em peças no mundo inteiro. No Brasil, possivelmente a maior referência é o espetáculo “PPP@WllmShkspr.Br”, dos Parlapatões de São Paulo, em que o grupo apresenta/conta/narra todas as peças de Shakespeare em apenas 90 minutos.
A direção de Adriana Maia explora bem a ideia, criando diversas cenas com agilidade e movimentação inventiva. A escolha do elenco, utilizando-se apenas de atores homens – em referência ao teatro elisabetano – também colabora com a dinâmica da cena e proporciona maior exploração de recursos cômicos. Como elemento cenográfico, apenas um cortinado preso a uma arara de figurino: outro artifício que favorece o ritmo do esquete. Há ainda a presença de um músico na lateral do palco, que realiza intervenções sonoras no decorrer do trabalho.
A interpretação dos atores aposta numa criação mais farsesca. Trata-se de um elenco jovem e com grande disposição física. O esforço em estabelecer contato com a plateia é um ponto positivo, mas uma certa busca excessiva pela graça atrapalha um pouco o desempenho do elenco. A utilização de alguns tipos e referências pop também me pareceu, em alguns momentos, obscura. O sotaque nordestino e o francês, e a brincadeira com Michael Jackson, por exemplo, não apresentam justificativa clara, dificultando a comunicação com o espectador. O que pode ser um problema, na medida em que o tipo necessita de uma identificação praticamente imediata para obter resultado.
As intervenções sonoras ao vivo, mesmo sendo um bom artifício, poderiam ser melhor exploradas. O volume alto e o fato do instrumento de sopro imitir um som um tanto agudo demais, também atrapalharam o resultado do trabalho.
Já tinha ouvido falar na cena – positivamente – e sabia que ela foi apresentada com 10 minutos de duração em outro festival. Infelizmente, na transposição para o 7º Niterói em cena, esses 5 minutos me pareceram excessivos, tornando o esquete um tanto alongado.
Mas trata-se de um trabalho e de uma pesquisa extremamente ricos, que explora em altos níveis a teatralidade e o jogo cênico, e de contribuição relevante à prática teatral.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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NO PONTO
Acorda! cia. teatral – Rio de Janeiro/RJ

O esquete chama de cara a atenção pela sua visualidade: cores fortes no cenário, luz, figurino e caracterização. Essa estética acaba por dizer muito sobre o trabalho, marcado por interpretações, movimentos e tons escrachados e debochados. No entanto, de maneira geral, um pouco de suavidade e delicadeza seria bem-vindo à cena. Também um excesso de músicas e pantomimas atrapalham o fluxo da cena e o ritmo do esquete, que tem uma história, com início, meio e fim para contar. Ou seja: tem um objetivo claro a ser perseguido, o que é uma qualidade.
Num primeiro momento, o texto se mostra bastante instigante: de onde aquelas pessoas conhecem o protagonista Greg? Mas a medida que a história evolui, sinto que ela acaba caindo numa situação um pouco gasta: a ideia de que estão todos mortos.
O elenco trabalha num registro clownesco – apesar de estranhamente só um ator usar o nariz de palhaço – abusando de bufonarias e patifarias. Mas a busca excessiva pela graça não ajuda. Uma observação: o uso demasiado do riso por parte dos personagens dá o efeito contrário à plateia; é ela que deve rir, não os atores.
Acredito que um trabalho mais rigoroso do clown, com menos variações vocais e menos movimentos, indo mais direto ao ponto, ajudaria bastante o desempenho do elenco. Há que se trabalhar a “seriedade” e as contradições do palhaço – base para a sua graça.
“No ponto” é um trabalho de um grupo jovem, com muito vigor, mas ainda incipiente, e com uma válida investigação sobre o humor, que deve ser trabalhada com técnica e deve ser bastante incentivada.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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QUANTO AO FUTURO
Rio de Janeiro/RJ

Trata-se de um monólogo com direção e atuação de Ana Flávia Chrispiniano, a partir do romance “A hora da estrela”, de Clarice Lispector. A atriz-diretora nos diz logo do que se trata o esquete ao confessar: “Eu preciso falar sobre essa moça, senão eu sufoco”. E de fato, vemos uma intérprete apaixonada por uma história, cheia de ideias e energia, e ávida por nos mostrar seu trabalho, repleto de referências – como a própria proposta de direção nos revela.
Mas o maior problema do trabalho está justamente na falta de uma pessoa de fora para coordenar tantas propostas e tanta disposição. Logo no início, por exemplo, o esquete se utiliza de uma narração em off, ao meu ver não muito interessante e de certa maneira desnecessária, pois se trata de um teatro narrativo. A utilização de offs em cena é sempre delicada, ainda mais num trabalho que depende tanto da presença da atriz em cena.
A atriz, com evidentes qualidades, poderia se sair melhor se tivesse um diretor junto a ela, selecionando e orientando o material que a atriz propõe. Pausas, silêncios, volume de voz, delicadezas, o ritmo da cena, de maneira geral, tudo isso se melhor trabalhado modificaria positivamente o resultado final, pois a cena acaba ficando num mesmo registro quase que do início ao fim. Também esteticamente a cena poderia apresentar mais recursos, iniciativa que fica mais difícil quando o diretor está em cena. O momento em que a atriz come, por exemplo, poderia ser melhor explorado – uma boa oportunidade para passar ao público algumas sensações que o rico texto exala.
A quebra entre palco e plateia, no início – um dos instantes mais delicados e honestos da cena –, é um ponto positivo do trabalho, convidando o espectador a embarcar na história. Momentos como esse, somados à potência da atriz, mostram que a cena tem bastante potencial. Creio que um olhar de fora e a convergência do trabalho mais em direção à construção de cenas dramáticas (performáticas) e de experiências, e menos à contação da história, resultará num trabalho mais maduro e, inclusive, mais autoral.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 14 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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O DOBRO
Embôa Companhia – Rio de Janeiro/RJ

O trabalho, do início ao fim, nos propicia um belo deleite visual: som, luz, movimento, visualidade. Bonitas imagens, repletas de cheiro e cor, ajudam o espectador a embarcar no mundo criado pela dupla de artistas. Nesse sentido, a “viagem lúdica” que os atores-autores-diretores Marcelo Cavalcanti e Luiza Mayall falam na proposta de direção funciona bem. Mas assim como em outras cenas do festival, o acúmulo de funções quase sempre traz alguns prejuízos ao trabalho.
O esquete, de maneira geral, me parece mais apoiado numa estrutura lírica, com foco na visualidade e na experiência sensorial. O texto, repleto de mudanças bruscas e cortes excessivos, dificulta a transmissão da história e nos impede de ter uma empatia maior com os personagens.
Também há um excesso de ideias em cena, que acabam ficando soltas e prejudicam a unidade do esquete. Creio que um melhor trabalho com o texto, selecionando os momentos mais significativos e aprofundando-os – principalmente nos momentos dramáticos (teatrais, conflituosos) – darão mais força à cena.
Há que se pensar também numa variação de energia e estado das cenas do esquete como um todo, para que não fiquem num mesmo registro. As dores e a profundidade do personagem do pescador podem se acentuar se lhe for oferecido momentos de felicidade e prazer, para que possamos ver mudanças. Um trabalho vocal mais rigoroso de projeção de voz também é necessário, ainda mais num espaço em que a acústica é bastante prejudicada.
De forma geral, fico com a sensação de que gostaria de ver mais o trabalho do grupo, pois os bons momentos que a cena propicia indicam uma pesquisa promissora, mas ainda em desenvolvimento.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)

Rio de Janeiro, 14 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena





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