DIRIJA
MINHA MORTE
Lado B de
teatro – Rio de Janeiro/RJ
A primeira cena do segundo dia de
apresentações do 7º Niterói em Cena tem grande apelo popular e comunicação
direta com a plateia. A entrada inusitada de diversos atores, responsáveis pela
produção da morte do personagem Léo, causa bastante impacto. O fato desses
mesmos atores, que funcionam mais como uma espécie de elenco de apoio, estarem
cem por cento dentro dos personagens, interpretando e buscando pequenas ações
mesmo nos momentos em que não estão em evidência, dá credibilidade à proposta e
fortalece a cena.
No entanto, o trabalho peca em
algumas questões, principalmente no que diz respeito à dramaturgia. Mesmo
divertida e despretensiosa, precisa ser melhor trabalhada. O primeiro ponto: o
código penal brasileiro diz que é crime induzir, instigar ou auxiliar suicídio.
Mesmo se tratando de uma cena de comédia bastante fabulosa, essa é uma
informação conhecida por grande parte da plateia. Acredito que ao menos alguma
menção a esse dado poderia ser colocada/explorada no texto, ganhando,
inclusive, em profundidade, e deixando o público mais relaxado. Além disso, o
texto precisa de um melhor desenvolvimento e de um melhor acabamento técnico.
Questões como conflito, ação e reação, personagem e ação dramática poderiam ser
mais esmiuçadas. Digo isso pois gostaria de saber mais sobre o personagem
central e sobre a diretora. Entender melhor suas motivações para aquilo tudo. O
suicídio é um tema extremamente rico, ainda mais agora que as ideias de
eutanásia e suicídio assistido tem ganhando força e destaque no mundo. Repito
que, mesmo sendo uma cena despretensiosa, um pouco mais de consistência ao tema
abordado só tende a melhorar o trabalho como um todo. O próprio final, do jeito
como a cena está, acaba se tornando um pouco previsível.
A direção aposta na agilidade e
dinâmica da cena, dando-lhe ritmo e velocidade. Trata-se de um esquete bem
ensaiado e com marcações precisas. Mas em alguns momentos ele carece de mais
calma, como quando o protagonista se prepara para se matar. O suspense poderia
potencializar a gag, deixando o momento ainda mais divertido. E isso ocorre
pelo menos duas vezes.
É nítido o comprometimento da
equipe; e a escolha do tema pelo autor é um ponto positivo. Trata-se de um
trabalho bastante divertido e de interesse do grande público. Portanto, um
pouco mais de discussão sobre o tema e um pouco mais de carpintaria no texto
devem promover a cena e a pesquisa do grupo a um nível ainda mais alto.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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IRMÃS
Oficina social de teatro – Niterói/RJ
O esquete “Irmãs” mostra desde o
início suas credenciais: trata-se de um trabalho em processo baseado fundamentalmente
no jogo das três atrizes em cena, tomando como mote o texto “As três irmãs”, de
Anton Thékhov.
São três atrizes ainda bastante
novas, mais realmente muito promissoras. A disponibilidade e a “cara-de-pau”
(no bom sentido) é evidente, mostrando que elas não têm medo de propor e de se
expor em cena. Mas o objeto de pesquisa escolhido, a obra do dramaturgo russo,
me parece ainda um pouco estranho ao elenco – naturalmente. É extremamente
válido o trabalho com esse grande autor, como também a disponibilidade das
atrizes. Mas é claro que somente com um pouco mais de tempo e vivência as
jovens atrizes poderão captar com plenitude e total potência as questões propostas
pelo texto. Por enquanto, o que nos chama a atenção, é o rico jogo entre as
atrizes no palco.
Infelizmente, a cena foi
desclassificada da competição por extrapolar o tempo permitido. O que nos
evidencia um dos problemas do esquete. Um pouco mais de agilidade e cortes nas
cenas seria bastante bem-vindo. Sinto ainda que a dramaturgia construída
paralelamente ao texto de Tchékhov acaba ficando um tanto quanto autorreferente
demais: em alguns momentos parecia ser um jogo, uma brincadeira, somente da
equipe. Nesse sentido, a dramaturgia poderia, de alguma maneira, convidar mais
o espectador a embarcar na proposta. A segunda parte do esquete, quando as
atrizes se vestem de seus personagens aumenta o interesse da plateia e melhora
o resultado como um todo.
De forma geral, a cena parece um
trabalho de pesquisa ainda em desenvolvimento. Apresentar esse processo para o
público é bastante válido, pois permite o grupo testar as ideias e iniciativas
propostas e processar a reação dos espectadores. Tempo e dedicação irão
naturalmente contribuir para um desempenho melhor da cena. O mote é relevante e
as atrizes dispostas. Os buracos e alguns tempos demasiadamente longos serão
corrigidos e a dramaturgia melhor definida, com um foco mais preciso.
Um ponto ainda que merece
cuidado: o figurino inicial das atrizes não dá segurança suficiente para elas
se movimentarem como gostariam.
No mais, continuem o trabalho! O
caminho apresentado pela direção é um ótimo caminho!
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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A LISTA DE SCHEILLA
CASA cia. de teatro – Rio de Janeiro/RJ
O mote proposto pela cena é
bastante interessante: a supervalorização do consumo e a banalização do corpo
humano. Como plataforma, o grupo se apoia numa linguagem cômica e de apelo
popular. No entanto, uma busca excessiva pela graça e pelo riso do público
acaba prejudicando um melhor rendimento.
A própria estrutura do texto
encaminha o esquete neste sentido. Isso porque a maior parte dele se concentra
apenas na apresentação de uma sequência de situações parecidas: a compra ou não
de partes do corpo sob a única justificativa de eles estarem ou não na lista de
compras. Qualquer um pode comprar qualquer parte do corpo e substitui-la? Elas
não têm um preço? Em qualquer lugar são vendidas? Se todos têm acesso a esses
produtos, por que simplesmente não compram? Tem gente que é contra isso? Todas
essas questões acabam ficando de lado no texto, impedindo a cena de um
aprofundamento/desenvolvimento maior.
O texto também poderia explorar
outras dinâmicas, mostrar mais dos personagens para não ficar tão linear.
Praticamente a única mudança – e é uma ótima mudança – se dá no final, quando
Sheilla “dá o troco” no marido. No
entanto, a quebra de tempo é desnecessária e atrapalha o ritmo e a unidade de
ação da cena.
Também a interpretação dos atores
vai para um caminho mais caricato, assim como a orientação da direção em
determinadas marcas, como, por exemplo, os atores olhando para a plateia para
falar de um produto – como se estivessem num comercial de tevê.
O esquete ainda me parece que
precisa de um pouco mais de tempo de ensaio para atingir a agilidade e o tempo
que precisam.
A cenografia foi bem resolvida
através de caixas, como embalagem para os produtos, ao invés de deixá-los
expostos – o que seria bem difícil de se produzir. Como proposta, acho que na
cena final Scheilla poderia entrar com muitas caixas de pênis, ao invés de três
ou quatro. Daria mais impacto.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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PÁSSARO FORA DO AR
Núcleo Curare – Porto Velho/RO
A disponibilidade física do ator
Cláudio Zarco é evidente. Trata-se de um monólogo que fala sobre “a experiência
trancafiada de um menino que se transmuta em pássaro”, como a proposta de
encenação aponta, e que se utiliza muito da desenvoltura corporal do seu
intérprete.
A encenação e a dramaturgia apostam
numa cena extremamente lúdica e poética, imprimindo um tom mais performático do
que dramático (no sentido de drama, conflito) – o que pode ser visto tanto de
maneira positiva quanto negativa. Acredito que o texto poderia ser melhor
trabalhado no sentido de buscar uma maior clareza. É um tanto obscura a
história de como ele se tornou pássaro, o próprio personagem (sua idade, por
exemplo) e sua relação com o pai. Sabemos que tudo está ligado, de alguma
forma, mas não entendemos, ao final do esquete, exatamente o que se passou, em
termos de narrativa. A própria estrutura do texto não favorece. Pra quem o ator
fala? É um depoimento? Uma narração? Uma performance?
A estética do trabalho é um ponto
que chama a atenção. Mas alguns signos não ficam claros, como, por exemplo, o
uso da tanga como figurino. As interferências sonoras – relacionadas a
comerciais de tevê antigos – são bem curiosas e instigantes, mas também não
sabemos exatamente o porquê delas e sua função. A clareza da cena ainda se
perde em momentos (poucos, é verdade) em que a projeção de voz do ator não
funciona tão bem, impedindo o espectador de compreender alguns trechos.
Acredito que mais objetividade
daria mais resultado à cena: mais clareza no texto, nos signos propostos e
mesmo na movimentação do ator. Sabemos do potencial corporal dele, mas as vezes
há um excesso de gestos e movimentos, que podem se transformar em maneirismos,
na medida que são repetidos demasiadamente e sem justificativa evidente. Outra
possibilidade é a cena ir para um campo oposto e investir integralmente na
performatização do trabalho, deixando de lado os conceitos dramáticos
clássicos. Do jeito que está, infelizmente, o esquete está no meio do caminho,
apontado muitas boas ideias, levantando uma história/questão pertinente ao
tratar do abuso infantil, mas que não se realiza totalmente por uma falta de
maior clareza.
Um belo trabalho de investigação,
que merece mais objetividade e carpintaria dramatúrgica, para que não se torne
apenas uma expressão pessoal, porém, inacessível, do ator.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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O POVO, O REI E O BUFÃO DO REI.
Multifoco companhia de teatro – Rio de Janeiro/RJ
“O povo, o rei e o bufão do rei”
é uma cena em que se destacam a visualidade e a disponibilidade de conjunto da
equipe, para a realização de um trabalho coeso e com um discurso extremamente
válido.
O esquete é uma adaptação da obra
de Matéi Visniec – um autor que tem chamado muita atenção no muito inteiro,
cada vez mais encenado – que se utiliza de uma fábula medieval para fazer um
paralelo com o atual momento político em que o Rio de Janeiro vive. Em
especial, as repercussões dos movimentos de junho de 2013 e a “queda” do
governador Sergio Cabral. A dialética promovida pelo texto e a utilização dos
“ou” promove uma interação muito proveitosa com a realidade, levando o
espectador a uma série de questionamentos sobre o tema proposto.
A encenação é toda trabalhada em
função da iluminação, manipulada através de refletores portáteis pelos próprios
atores. A direção optou por dar uma unidade à cena, mantendo o tempo todo a
dinâmica da iluminação. Um caminho que funciona a contento para um esquete
curto, mas que possivelmente não suportaria um espetáculo inteiro, ou mesmo uma
cena um pouco maior. O diretor, então, joga com o limite da utilização do
recurso, mas, ao meu ver, teve um resultado bastante positivo.
O esquete é belíssimo. Os efeitos
conseguidos pela proposta de direção com a luz são muito interessantes e um
verdadeiro deleite para os olhos do espectador. E somente um elenco coeso e
totalmente entregue à proposta, livre de maiores vaidades, poderia dar conta.
Como de fato aconteceu. Além de disponíveis, corporal e vocalmente, a precisão
de seus movimentos e gestos possibilita que a cena tenha um ritmo ágil e
acelerado, como se pede.
O trabalho com a musicalidade
também chama a tenção e deve ser valorizado, assim como toda a pesquisa do
grupo, que promove conteúdo significativo ao público e impacto estético.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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ISTO NÃO É UMA GUERRA
Os pataPHísicos – Rio de Janeiro/RJ
O esquete, que acabou se
consagrando o grande vencedor do festival na mostra adulta, é o que costumamos
chamar de um trabalho “redondo”, ou seja preciso, bem acabado e sólido em sua
proposta e realização.
Quatro homens, figuras muito bem
caraterizadas, estão dentro de uma espécie de bunker, tentando descobrir quem
seria o traidor do grupo. O texto, de Rapahel Janeiro, além de abordar um tema
pertinente ao momento de radicalização política e de bipartidarismo em que
estamos enfrentando, é dramaturgicamente muito bem construído: apresentação,
desenvolvimento, reviravolta, desfecho... muitos dos elementos da dramaturgia
dita convencional estão presentes e com total êxito. O espectador acompanha com
atenção a história. A única ressalva talvez esteja no final, um pouco inusitado
demais. Mas mesmo assim está de acordo com o tom de reviravoltas proposto e com
o registro fabuloso da cena.
“Isto não é uma guerra” é um
trabalho de grupo, repleto de dedicação e ensaio. Isso fica evidente na
condução da cena, que ocorre em ritmo acelerado e preciso. Mérito também,
claro, da direção segura de Rapahel Vianna.
A visualidade da cena é
excelente: uma luz branca no início dá bem a sensação desejada de lugar
enclausurado e a composição dos figurinos é bastante interessante, como também
o cenário, simples e objetivo. A trilha sonora, apesar de um pouco excessiva,
ajuda no clima. A dinâmica do avanço da cena, a cada mudança de perspectiva, é
ótima e é um elemento inventivo que ajuda no desenvolvimento da ação. Todo esse
conjunto ainda nos dá uma impressão cinematográfica da cena.
O jogo dos atores funciona muito
bem. Eder Montalvão, Henrique Juliano, Henrique Trés e Rapahel Janeiro estão
seguros e executam as movimentações e gestos com precisão e qualidade. A
projeção de voz funciona muito bem e nem um momento deixamos de acompanhar o
texto.
Um grande trabalho. O grupo
merece toda a atenção.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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EM CENA(AÇÃO)
Duo de dois – Rio de Janeiro/RJ
O esquete tem uma proposta que
lembra bastante a obra de Pirandello e Woody Allen, na medida em que brinca com
a ideia da metalinguagem e coloca personagens conscientes de sua condição
ficcional em cena. Particularmente, esse é um mote que me interessa bastante.
No caso de “Em cena(ação)” trata-se de uma iniciativa válida, mas um tanto
incipiente.
A sensação de “realidade” que a
cena procura – através de um diálogo mais cotidiano e da afirmação de que são
atores/personagens no palco agindo no sentido de serem apenas “eles mesmos” –
acaba resvalando num problema técnico: o tempo da cena. Há que se ter mais
calma e deixar as coisas acontecerem de modo que tudo pareça mais “natural”
(como na cena final). A velocidade da cena e a falta de pausas e silêncios
atrapalham um pouco a proposta do texto. Um tempo mais trabalhado é necessário
para que o espectador compreenda/aceite melhor a situação e embarque na
história. Também a posição dos atores, muito no fundo do palco, é outro
empecilho para um melhor resultado.
Outro ponto que chama a atenção é
direção de movimento dos atores. Em muitos momentos eles ficam parados, com os
braços rente ao corpo, enquanto falam o texto. Isso causa uma certa estranheza
que, se por um lado é bem-vinda, pensando na temática da cena, por outro é um
signo um tanto obscuro. De forma geral, a direção aponta para esse caminho:
movimentos precisos e herméticos.
A iluminação imprime um tom
dramático demais à cena, diminuindo, ao meu ver, seu potencial cômico. Aliás, o
humor está bastante presente no trabalho, dando leveza à toda a situação. Caio
Scot apresenta um pouco mais de segurança no texto, talvez porque ele mesmo o
tenha escrito.
O resultado do trabalho é um
esquete divertido, prematuro mas bastante promissor. É preciso mais carpintaria
no texto e mais tempo de pesquisa na direção. As referências são muitas e
bastante férteis. Creio que o grupo, se investir mais nessa direção, pode
chegar a um resultado bem satisfatório muito em breve.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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OS INVISÍVEIS
Agromelados cia. de teatro – Niterói/RJ
O grupo, composto por atores e
atrizes bastante jovens, apresenta em cena algumas histórias sobre moradores de
rua e sua marginalização. São nove pessoas no palco, todos fortemente
caracterizados, causando um impacto visual interessante.
O trabalho, que segundo a
proposta de direção “passou pelo teatro do absurdo”, intercala depoimentos
individuais e cenas de bando dentro de uma estrutura dramatúrgica não linear.
Como cenografia, há uma série de caixas de papelão com objetos montados dentro delas
que lembram as esculturas do artista Farnese de Andrade.
A direção optou por uma
orientação de interpretação mais caricata e menos realista (ou hiper-realista,
digamos). Percebe-se que há uma pesquisa, pois o elenco executa gestos e
movimentos específicos que chamam a atenção. Mas apesar disso, o trabalho, de
forma geral, ainda precisa ser melhor processado, para que a profundidade da
discussão social e artística possa emergir. O texto, nesse sentido, não dá
muito suporte, pois acaba seguindo um caminho mais lírico, sem muitas
oportunidades para um embate dramático (conflitoso) entre os personagens.
Trata-se de uma espécie de performance poética, que busca denunciar a maneira
como muitas vezes o ser humano é tratado com animal. Lembra, em alguns
momentos, o texto de Máximo Gorki, “Ralé”.
Creio que o esquete precise de
mais tempo, para que os atores possam evoluir dramaticamente, cada um em seu
momento. Como são nove atores/atrizes e apenas quinze minutos de apresentação,
é compreensível que tudo tenha ficado um pouco corrido demais.
O ponto fraco, no meu entender, é
a trilha sonora. Muitas vezes pareceu apelativa e com o único intuito de tornar
a cena triste.
“Os invisíveis” é um trabalho
válido, com um discurso e intenção claros, mas ainda incipiente. Passa por uma
pesquisa interessante, mas que poderia apostar mais em situações dramáticas
(cena, diálogo, progressão da ação) como forma de potencializar o esquete.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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O COMA
Grupo teatral loucAtores – Rio de Janeiro/RJ
O início do esquete chama muita
atenção. Nele descobrimos a opção da direção pela “unificação do elenco em uma
única personagem”, como diz a proposta de direção. Seis atores, extremamente
caracterizados, interpretam o personagem central, Olegário, para contar uma
história que lembra algumas situações das peças de Nelson Rodrigues.
Essa “unificação”, ao meu ver, é
o que há de melhor e pior na cena. Tem-se empatia ou não por aquela figura, que
no caso do esquete está multiplicada por seis. São seis vezes algo com o qual o
espectador se relaciona, positiva ou negativamente. De qualquer forma, o
aglomerado de atores/atrizes é impactante e virtuoso, pois é evidente o árduo
trabalho na criação daquela espécie de coro – todos executam movimentos,
coreografias, gestos e expressões unificadas. Porém, em alguns momentos, essa
dinâmica acaba não favorecendo a compreensão do texto, no sentido vocal.
O elenco se utiliza de recursos
de grande apelo popular, como é o caso da utilização de sotaques e das cenas de
masturbação. Mais uma vez, há que goste mais e há quem goste menos disso.
A recorrência de momentos
musicados e de coro retarda um pouco a ação e o desenvolvimento da história. A
direção, numa tentativa de contornar essa questão, imprime um ritmo acelerado à
cena, além de criar marcas e movimentos ágeis e inventivos. A utilização dos
recursos do teatro-narrativo também colabora com essa ideia.
Sobre a dramaturgia, o que me
chama mais a atenção é a ausência de uma “questão” maior a ser explorada. Me
parece que a história é apenas um pretexto para a realização das dinâmicas de
coro. No entanto, o desenvolvimento é claro, com início meio e fim.
Trata-se de um trabalho de
virtuose do grupo, que pode agradar mais ou menos às pessoas, mas que apresenta
uma pesquisa bastante interessante, colocando em cena artistas empenhados e
talentosos.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2014 – 7º Festival Niterói em Cena
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