A HISTÓRIA DO COCO
Sintonia Dominó – Rio de Janeiro/RJ
Mesmo que o texto original seja
de “autoria desconhecida” há um trabalho dramatúrgico criado para o esquete.
Por isso é importante que o grupo esclareça esse crédito na ficha técnica.
A direção de “A história do coco”
acerta quando puxa a cena para frente do palco, aproximando o trabalho do
público e facilitando a projeção da voz, pois o espaço não tem boa acústica. A
cena, no que diz respeito à marcação e aos gestos dos atores, é bastante
precisa. No entanto, há um certo excesso de estilização, também nesses dois
quesitos, que, em alguma medida, acaba se transformando em maneirismos. Um
pouco de objetividade poderia dar um resultado mais interessante ao trabalho:
limpeza e sutileza na direção de movimento.
Apesar desta ressalva, o elenco
se sai muito bem! Há um claro e prazeroso jogo no diálogo entre os atores, que
passam muita segurança no trabalho e propiciam ao espectador a total
compreensão do texto, no sentido de que se utilizam muito bem da projeção e
articulação da voz. A boa comunicação com público é evidente.
A sonoridade também é um ponto
positivo, imprimindo ritmo e charme ao esquete.
Trata-se, com mérito de toda a
equipe, de uma história muito bem contada em cena.
Obs.: talvez o uso do termo
“imaginário” ao se referir aos objetos utilizados pelos personagens seja
desnecessário.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, novembro de 2014. 7º Festival Niterói em Cena.
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MEU AVÔ ÁRABE
Multifoco companhia de teatro – Rio de Janeiro/RJ
A temática abordada pela equipe é
bastante interessante e, ao meu ver, relevante, na medida em que disponibiliza
ao público infantil o contato com uma cultura tão pouco abordada no Brasil e que
possui uma tradição extremamente rica.
No entanto, mesmo que bem
intencionada, a dramaturgia de “Meu avô árabe” carece de mais conflito e
carpintaria, para que não caia na armadilha de se tornar um texto explicativo,
com excesso de informações e pouca ação dramática. Talvez um recorte mais
pontual, selecionando um ou dois eventos da relação da menina com o avô, e
aprofundando-os, poderia ser um ponto de partida mais eficiente na
reestruturação do texto. (Desculpem meu pitaco de dramaturgo. Hehehehe).
A atriz precisa trabalhar melhor
seus recursos vocais para não arrefecer o final de algumas frases, que
dificulta a compreensão do texto por parte do público. O trabalho
interpretativo também poderia crescer na busca por uma maior variação do estado
e da energia do personagem, para que a energia da cena não fique tão linear. A
criação de momentos mais “dramáticos” na dramaturgia, como já falei, ajudaria
também nesse sentido.
As interferências sonoras
externas são, ao meu ver, quase sempre desnecessárias, pois diminuem a potência
da atriz. Afinal, trata-se de um monólogo: a maior dona da história – no
sentido de quem a conduz – é ela mesma (a atriz).
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, novembro de 2014. 7º Festival Niterói em Cena.
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CORDEL ENCANTADO
Garagem – Nilópolis/RJ
“Cordel encantado” coloca em cena
dois atores e um músico na intenção de contar histórias sobre o folclore
brasileiro e mostrar ao público a riqueza de algumas danças e coreografias do repertório
popular brasileiro. Porém, um trabalho mais técnico sobre a dramaturgia traria
um melhor resultado ao esquete, pois muitas vezes o texto se mostra apenas um
pretexto para a demonstração musical/coreográfica da cena.
Isso acaba tornando o esquete
mais longo do que deveria ser. A própria capoeira pode ser melhor explorada,
para que tenha mais sentido e fique menos alegórica. Mesmo que se trate de um
trabalho narrativo, uma espécie de contação de história, a expectativa, o suspense
e a progressão dramática precisam estar presentes, para que se prenda a atenção
do espectador. Há uma repetição demasiada na estrutura da cena que também cansa
um pouco. A presença do músico no centro do palco chama ainda a atenção: por
que o destaque, em detrimento aos atores? As histórias – e consequentemente a
possibilidade de uma melhor compreensão/assimilação delas por parte do público
– acabam ficando em segundo plano.
O elenco, apesar de apresentar
bastante disponibilidade, precisa tomar cuidado com a solidificação de alguns
maneirismos, para que o trabalho não fique um tom acima do necessário: quanto
mais simplicidade e objetividade, melhor.
De uma forma geral, menos danças
e mais conflitos dramáticos trariam um resultado mais potente ao esquete,
ajudando, inclusive, no trabalho dos atores. A pesquisa do grupo é louvável,
mas falta técnica para que as histórias sejam melhor contadas.
Obs.: a piada do “Itapipoca” é
ótima!
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, novembro de 2014. 7º Festival Niterói em Cena.
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EM BUSCA DO RISO PERDIDO
Claurinas – Niterói/RJ
“Em busca do riso perdido” toma
como pano de fundo a história de três primas palhaças que moram juntas e
recebem a visita de uma tia sem senso de humor. No entanto, a trama acaba
servindo mais como um pretexto para a realização de números clownescos do que
para o desenvolvimento de uma história.
Como se trata de um esquete
apresentado numa mostra teatral, acredito que a cena poderia investir mais
tempo na dramaturgia e no conflito proposto e menos tempo nos números de
palhaçaria. O excesso de jogos e brincadeiras – uns melhores que outros – acaba
ralentando o ritmo do esquete. A direção também colabora um pouco com isso, na
medida em que investe excessivamente em entradas e saídas de cena, sem fluidez
das transições. Há momentos inclusive que o palco fica vazio. Do meio pro
final, quando a tia mal humorada se transforma e embarca na brincadeira, o
esquete cresce bastante.
As atrizes que interpretam as
primas poderiam diferenciar melhor as personagens. Do jeito que está parece que
as três têm a mesma personalidade. Além de não contribuir para a dramaturgia da
cena, isso acaba frustrando um pouco o espectador, que quer ver figuras
diferentes e dispostas a mudarem. A exceção se dá na personagem da tia: ela se
transforma e tem uma energia própria, dando potência ao esquete.
O figurino é um tanto quanto
colorido demais e acaba sendo uma metáfora da cena. Acredito que um trabalho
mais objetivo e que dialogue melhor com a teatralidade (conflito e ação
dramática) trará mais resultados. A pesquisa do clown é um caminho árduo e
cheio de nuances. O grupo poderia investir mais na composição de seus
personagens pensando através da ideia de contradição, saindo do lugar comum e
ganhando em individualidade e profundidade – mesmo que “só” para divertir a
plateia. As dinâmicas e números propostos podem também trabalhar mais com o
“sim” do que com o “não”, para que haja de fato um jogo em cena: menos recusas
e mais aceitações/tentativas.
Trata-se de um trabalho promissor
e muito bem intencionado, mas que, ainda incipiente, carece de técnica e um
pouco mais de pesquisa.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, novembro de 2014. 7º Festival Niterói em Cena.
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O CANTO DE SASAKI
Trevo – Rio de Janeiro/RJ
“O canto de Sasaki” é um esquete
com uma visualidade diferenciada mas que precisa investir mais na clareza da
história, que acaba ficando um tanto confusa. Só consegui entender plenamente a
proposta quando li o material informativo que me foi passado. Alguns dados da
cena são muito difíceis de serem compreendidos somente através do que é
visto/ouvido: onde eles estão? Quem são esses personagens? Que época é essa? O
que essas pessoas querem?
A dramaturgia – em termos de ação
dramática – é bastante frágil. Aparentemente, serve como uma plataforma para
bonitas imagens e movimentos que carecem ainda de maior rigor técnico e
objetividade. Há muita movimentação em cena, mas pouca ação.
Percebe-se claramente que há uma
pesquisa sendo desenvolvida pelo grupo. No entanto, do jeito que está, o
resultado ainda não mostra seu propósito, e as questões apontadas na proposta
de encenação e na sinopse, apesar de bastante instigantes, ainda são apenas um
projeto a ser alcançado. Afinal, do que trata a cena?
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, novembro de 2014. 7º Festival Niterói em Cena.
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A ERVILHA REAL
Proparoxítona – Rio de Janeiro/RJ
Uma cena animada, com enorme
poder de interação com a plateia! A comunicação com os espectadores chama
bastante a atenção, despertando o lúdico e a imaginação das crianças, que
parecem se divertir durante a apresentação.
No entanto, o trabalho precisa de
mais dramaturgia. A história é somente um pretexto para os jogos criados e para
a construção de uma unidade estética/temática. Acredito que menos tempo de
brincadeiras e mais situações de conflito e desenvolvimento dramático possam
potencializar o esquete, ampliando, inclusive, o sentido dos próprios jogos.
A música clássica é um ponto bastante
positivo na cena, imprimindo grandes “credenciais” ao trabalho, além de ajudar
a compor o clima. A entrada dos personagens pela plateia também causa grande
impacto e, junto com a música, são uma ótima apresentação do trabalho.
Uma observação técnica: durante a
“tradução” realizada no início do esquete, por que a atriz não faz a mímica de
todas as palavras, ao invés de fazer apenas de algumas?
“A ervilha real” é uma cena bem
intencionada – com ressalva ao fato de que equipe pede à plateia que vote nela
– mas que, aparentemente, carece de uma “questão” maior em sua justificativa. Poderia
ganhar bastante se unisse melhor os divertidos jogos propostos a uma história
com mais teatralidade. Afinal, pouco se modifica durante o desenvolvimento da
cena – um dos dogmas das artes cênicas.
Trata-se de um esquete com uma
grande plataforma, mas com conteúdo frágil.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, novembro de 2014. 7º Festival Niterói em Cena.
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