29 de novembro de 2014

CRÍTICAS MOSTRA INFANTO JUVENIL - DIA 9 (por Diego Molina)


A HISTÓRIA DO COCO
Sintonia Dominó – Rio de Janeiro/RJ

Mesmo que o texto original seja de “autoria desconhecida” há um trabalho dramatúrgico criado para o esquete. Por isso é importante que o grupo esclareça esse crédito na ficha técnica.
A direção de “A história do coco” acerta quando puxa a cena para frente do palco, aproximando o trabalho do público e facilitando a projeção da voz, pois o espaço não tem boa acústica. A cena, no que diz respeito à marcação e aos gestos dos atores, é bastante precisa. No entanto, há um certo excesso de estilização, também nesses dois quesitos, que, em alguma medida, acaba se transformando em maneirismos. Um pouco de objetividade poderia dar um resultado mais interessante ao trabalho: limpeza e sutileza na direção de movimento.
Apesar desta ressalva, o elenco se sai muito bem! Há um claro e prazeroso jogo no diálogo entre os atores, que passam muita segurança no trabalho e propiciam ao espectador a total compreensão do texto, no sentido de que se utilizam muito bem da projeção e articulação da voz. A boa comunicação com público é evidente.
A sonoridade também é um ponto positivo, imprimindo ritmo e charme ao esquete.
Trata-se, com mérito de toda a equipe, de uma história muito bem contada em cena.
Obs.: talvez o uso do termo “imaginário” ao se referir aos objetos utilizados pelos personagens seja desnecessário.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, novembro de 2014. 7º Festival Niterói em Cena.
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MEU AVÔ ÁRABE
Multifoco companhia de teatro – Rio de Janeiro/RJ

A temática abordada pela equipe é bastante interessante e, ao meu ver, relevante, na medida em que disponibiliza ao público infantil o contato com uma cultura tão pouco abordada no Brasil e que possui uma tradição extremamente rica.
No entanto, mesmo que bem intencionada, a dramaturgia de “Meu avô árabe” carece de mais conflito e carpintaria, para que não caia na armadilha de se tornar um texto explicativo, com excesso de informações e pouca ação dramática. Talvez um recorte mais pontual, selecionando um ou dois eventos da relação da menina com o avô, e aprofundando-os, poderia ser um ponto de partida mais eficiente na reestruturação do texto. (Desculpem meu pitaco de dramaturgo. Hehehehe).
A atriz precisa trabalhar melhor seus recursos vocais para não arrefecer o final de algumas frases, que dificulta a compreensão do texto por parte do público. O trabalho interpretativo também poderia crescer na busca por uma maior variação do estado e da energia do personagem, para que a energia da cena não fique tão linear. A criação de momentos mais “dramáticos” na dramaturgia, como já falei, ajudaria também nesse sentido.
As interferências sonoras externas são, ao meu ver, quase sempre desnecessárias, pois diminuem a potência da atriz. Afinal, trata-se de um monólogo: a maior dona da história – no sentido de quem a conduz – é ela mesma (a atriz).
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, novembro de 2014. 7º Festival Niterói em Cena.
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CORDEL ENCANTADO
Garagem – Nilópolis/RJ

“Cordel encantado” coloca em cena dois atores e um músico na intenção de contar histórias sobre o folclore brasileiro e mostrar ao público a riqueza de algumas danças e coreografias do repertório popular brasileiro. Porém, um trabalho mais técnico sobre a dramaturgia traria um melhor resultado ao esquete, pois muitas vezes o texto se mostra apenas um pretexto para a demonstração musical/coreográfica da cena.
Isso acaba tornando o esquete mais longo do que deveria ser. A própria capoeira pode ser melhor explorada, para que tenha mais sentido e fique menos alegórica. Mesmo que se trate de um trabalho narrativo, uma espécie de contação de história, a expectativa, o suspense e a progressão dramática precisam estar presentes, para que se prenda a atenção do espectador. Há uma repetição demasiada na estrutura da cena que também cansa um pouco. A presença do músico no centro do palco chama ainda a atenção: por que o destaque, em detrimento aos atores? As histórias – e consequentemente a possibilidade de uma melhor compreensão/assimilação delas por parte do público – acabam ficando em segundo plano.
O elenco, apesar de apresentar bastante disponibilidade, precisa tomar cuidado com a solidificação de alguns maneirismos, para que o trabalho não fique um tom acima do necessário: quanto mais simplicidade e objetividade, melhor.
De uma forma geral, menos danças e mais conflitos dramáticos trariam um resultado mais potente ao esquete, ajudando, inclusive, no trabalho dos atores. A pesquisa do grupo é louvável, mas falta técnica para que as histórias sejam melhor contadas.
Obs.: a piada do “Itapipoca” é ótima!
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, novembro de 2014. 7º Festival Niterói em Cena.
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EM BUSCA DO RISO PERDIDO
Claurinas – Niterói/RJ

“Em busca do riso perdido” toma como pano de fundo a história de três primas palhaças que moram juntas e recebem a visita de uma tia sem senso de humor. No entanto, a trama acaba servindo mais como um pretexto para a realização de números clownescos do que para o desenvolvimento de uma história.
Como se trata de um esquete apresentado numa mostra teatral, acredito que a cena poderia investir mais tempo na dramaturgia e no conflito proposto e menos tempo nos números de palhaçaria. O excesso de jogos e brincadeiras – uns melhores que outros – acaba ralentando o ritmo do esquete. A direção também colabora um pouco com isso, na medida em que investe excessivamente em entradas e saídas de cena, sem fluidez das transições. Há momentos inclusive que o palco fica vazio. Do meio pro final, quando a tia mal humorada se transforma e embarca na brincadeira, o esquete cresce bastante.
As atrizes que interpretam as primas poderiam diferenciar melhor as personagens. Do jeito que está parece que as três têm a mesma personalidade. Além de não contribuir para a dramaturgia da cena, isso acaba frustrando um pouco o espectador, que quer ver figuras diferentes e dispostas a mudarem. A exceção se dá na personagem da tia: ela se transforma e tem uma energia própria, dando potência ao esquete.
O figurino é um tanto quanto colorido demais e acaba sendo uma metáfora da cena. Acredito que um trabalho mais objetivo e que dialogue melhor com a teatralidade (conflito e ação dramática) trará mais resultados. A pesquisa do clown é um caminho árduo e cheio de nuances. O grupo poderia investir mais na composição de seus personagens pensando através da ideia de contradição, saindo do lugar comum e ganhando em individualidade e profundidade – mesmo que “só” para divertir a plateia. As dinâmicas e números propostos podem também trabalhar mais com o “sim” do que com o “não”, para que haja de fato um jogo em cena: menos recusas e mais aceitações/tentativas.
Trata-se de um trabalho promissor e muito bem intencionado, mas que, ainda incipiente, carece de técnica e um pouco mais de pesquisa.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, novembro de 2014. 7º Festival Niterói em Cena.
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O CANTO DE SASAKI
Trevo – Rio de Janeiro/RJ

“O canto de Sasaki” é um esquete com uma visualidade diferenciada mas que precisa investir mais na clareza da história, que acaba ficando um tanto confusa. Só consegui entender plenamente a proposta quando li o material informativo que me foi passado. Alguns dados da cena são muito difíceis de serem compreendidos somente através do que é visto/ouvido: onde eles estão? Quem são esses personagens? Que época é essa? O que essas pessoas querem?
A dramaturgia – em termos de ação dramática – é bastante frágil. Aparentemente, serve como uma plataforma para bonitas imagens e movimentos que carecem ainda de maior rigor técnico e objetividade. Há muita movimentação em cena, mas pouca ação.
Percebe-se claramente que há uma pesquisa sendo desenvolvida pelo grupo. No entanto, do jeito que está, o resultado ainda não mostra seu propósito, e as questões apontadas na proposta de encenação e na sinopse, apesar de bastante instigantes, ainda são apenas um projeto a ser alcançado. Afinal, do que trata a cena?
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, novembro de 2014. 7º Festival Niterói em Cena.
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A ERVILHA REAL
Proparoxítona – Rio de Janeiro/RJ

Uma cena animada, com enorme poder de interação com a plateia! A comunicação com os espectadores chama bastante a atenção, despertando o lúdico e a imaginação das crianças, que parecem se divertir durante a apresentação.
No entanto, o trabalho precisa de mais dramaturgia. A história é somente um pretexto para os jogos criados e para a construção de uma unidade estética/temática. Acredito que menos tempo de brincadeiras e mais situações de conflito e desenvolvimento dramático possam potencializar o esquete, ampliando, inclusive, o sentido dos próprios jogos.
A música clássica é um ponto bastante positivo na cena, imprimindo grandes “credenciais” ao trabalho, além de ajudar a compor o clima. A entrada dos personagens pela plateia também causa grande impacto e, junto com a música, são uma ótima apresentação do trabalho.
Uma observação técnica: durante a “tradução” realizada no início do esquete, por que a atriz não faz a mímica de todas as palavras, ao invés de fazer apenas de algumas?
“A ervilha real” é uma cena bem intencionada – com ressalva ao fato de que equipe pede à plateia que vote nela – mas que, aparentemente, carece de uma “questão” maior em sua justificativa. Poderia ganhar bastante se unisse melhor os divertidos jogos propostos a uma história com mais teatralidade. Afinal, pouco se modifica durante o desenvolvimento da cena – um dos dogmas das artes cênicas.
Trata-se de um esquete com uma grande plataforma, mas com conteúdo frágil.
Diego Molina (panodefundo@gmail.com)
Rio de Janeiro, novembro de 2014. 7º Festival Niterói em Cena.
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